Há um ano mais ou menos um encontro acontecia aqui dentro de mim: dois gametas se encontraram e uma vida se iniciava. Eu ainda não fazia ideia do que estava acontecendo e que estava ali me tornando mãe. Será que foi naquele momento? Outro que eu me lembro muito bem foi a manhã de sábado de abril, quando um dia de atraso me fez desconfiar e “só pra desencanar” fiz aquele teste que mostrou os dois tracinhos não muito nítidos, mas suficientes para causar um baita frio na barriga. Mesmo assim não acreditei. Eu já era mãe? Foi preciso o piquezinho da agulha e as seis horas mais longas da minha vida para o exame de sangue confirmar: positivo! É agora, é verdade, sou mãe! A felicidade me invadiu, mas ainda não me sentia mãe.
Os primeiros enjôos e aqueles 3 meses que não dá vontade de sair da cama passaram. Vieram as primeiras ultras, os primeiros chutinhos. Acho que aí começou a parecer mais sólido, mas ainda assim era difícil acreditar. Eu sou mãe?
Depois daquele barrigão imenso, me senti a mulher mais completa do mundo e linda também, porque não? Como tive orgulho da minha barriga. Acho que foi a parte do meu corpo que mais amei até hoje: minha barriga de grávida! Ela pesava, dava dor nas costas e dificuldade para respirar, mas era linda! Mas é aí, mamãe? Eu continuava me sentindo a mesma pessoa: menina mulher, insegura e forte, morrendo de medo, mas cheia de garra.
O parto, ah o parto. Era o que mais me dava medo, mas foi tudo maravilhoso. Se é que dá pra chamar de maravilhoso a maior dor da sua vida, mas depois de sentir meu filho nos braços nem lembrava mais da dor. Anestesia não precisei, sou uma “parideira” como disse minha obstetra. Foi muito mais rápido do que imaginei que seria e a dor foi, digamos que, administrável. Com a ajuda do papai e da amiga doula, tudo foi possível.
Com ele no colo eu me senti mãe, finalmente. Mas peraí, eu sou a mesma pessoa. Cadê aquela leoa? Cadê o instinto materno? Ah, deve estar chegando, calma, pensei.
Amamentação, taí uma das coisas que mais tenho orgulho e prazer até agora. Amamentei ainda na sala de parto e sigo amamentando exclusivamente. Meu super tio-pediatra foi fundamental para me ajudar. Sim, é preciso ajuda, amamentar não é nada natural e “automático” como muitos pensam. Mas foi tudo lindo e eu amei e amo dar de mamar. Me sinto mais mãe a cada mamada.
Então é isso? Eu sou mãe? Mas será que ele me reconhece? Ele é tão pequeno, eu não dou conta nem de fazê-lo parar de chorar. Será que ele me ama? A insegurança bateu. Aqueles choros inconsoláveis foi a pior parte. Nada é tão desesperador do que ver seu filho chorar sem saber o que fazer. Cadê? Cadê o instinto materno? O que eu tenho que fazer? Alguém me ajuda? Eu sou a mãe, mas não tenho a menor ideia do que estou fazendo!
Sorte minha é que tinha sim muita gente pra ajudar. Diagnosticamos o refluxo logo cedo e começamos o tratamento. Era um revezamento de colo: mamãe, papai, vovó, vovô, titios, titias… e dê de balançar o menino. Golfa daqui, acalma dali, e o choro não para.
Ele dormiu, vou respirar. Qual a prioridade agora: vou no banheiro, como alguma coisa, tomo banho? E as roupinhas, tá tudo em dia? Ah isso vovó tá cuidando. O que eu vou comer? Papai tá vendo. A casa? Essa fica pra outra hora. Eu penteei o cabelo hoje?
Primeira consulta no consultório do pediatra e… vamos investigar a alergia ao leite de vaca. Não tá normal tanto chororô. Ufa! Tem como melhorar? Como que eu ia saber se tá normal ou não? Nunca cuidei de um bebê antes. Rsrs
Para de comer leite e derivados. Ai meu Deus, mas essa agora? Como é possível viver sem leite, queijo, chocolate? Mas se é pra ele melhorar, topo até comer jiló ou parar de comer chocolate (foi quase isso se não fosse a amiga confeiteira/alérgica tb) Rsrs.
E meus dias são assim: um sorriso aqui, um olhar ali, uma gracinha, um aperto no meu dedinho, um mamazinho que consola, uma conversa de ôôô e aaa. Novas descobertas para nós dois, assim estamos nos conhecendo e nos reconhecendo.
E agora eu sou mãe? Sim, definitivamente! Mãe do João Marcelo, o bebê mais lindo do universo. Meu careca cabeludo, grandão e banguela. Quando isso aconteceu? Não sei, acho que foram todos os dias, um de cada vez, foi e está sendo uma construção. Todos os dias da minha vida e todas as escolhas que eu já fiz me trouxeram até aqui. E eu não poderia estar mais feliz. Sem dormir e toda trabalhada no cheiro de golfo, mas feliz!